quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Mas resulta...

No treino e educação dos cães a obtenção de resultados é sempre o objectivo final. Focados neste objectivo único a maioria das pessoas ignora todas as outras variantes que integram a obtençaõ de resultados.
Quando me contactam, as pessoas usualmente sabem quais os objectivos que querem alcançar. “Quero que o meu cão páre de ladrar”. “Quero que ele salte menos”. “Quero que deixe de ser agressivo”. “Quero que ele sente quando peço”. “Gostava que viesse quando o chamo”....
O que muito raramente questionam é como podem atingir esses resultados.
O ser humano está tão focado na obtenção de resultados que se esquece totalmente de questionar a forma como estes são obtidos. Atingir objectivos sem olhar a meios, parece ser aceitável quando falamos de treino de cães mas esta realidade é perigosa e leva à morte e abandono de millhares de cães.

ATINGIR FINS SEM OLHAR A MEIOS
Quando se inicia uma discussão acerca de que métodos de treino usar para treinar um cão, a frase que mais ouço quando tento demonstrar a parvoíce que é usar aversivos para conseguir algo que se consegue com métodos e técnicas baseadas em reforço positivo é: “...mas resulta”.
As pessoas que usam choques eléctricos, estrangulam, batem, assustam, mauseiam ou intimidam os cães para conseguir deles “o que querem” esforçam-se imenso para demonstrar como os métodos usados resultam na obtenção dos comportamentos desejados.
Mas os resultados não são topico de discussão. Mesmo que através da compulsão conseguissemos que todos os cães se comportassem exactamente como queremos – algo que não é verdade – se podemos conseguir o mesmo SEM uso de compulsão, medo ou dor essa deve ser sempre a escolha.

RESULTA MESMO?

Uma vez uma cliente contava como o treinador anterior tinha conseguido que o seu cão fosse menos agressivo com outros cães. Desde morder a orelha ao cão, atirá-lo ao chão, berrar na cara dele, assustá-lo, estrangulá-lo até que urinasse de medo, o relato estava repleto de um sem fim de abusos “em nome do treino”. O focus da cliente no entanto manteve-se no facto de que “o cão dela quando estava com o treinador nunca mais atacou nenhum outro cão”. O objectivo havia sido “alcançado”, portanto de alguma forma, era aceitável fechar os olhos à quantidade de maus tratos que o cão teve que suportar.
Essa é sem dúvida o resultado mais visto no uso de métodos aversivos. A supressão de comportamento. O cão era agressivo com outros, mas através da aplicação de medo e dor, o cão aprendeu que na presença daquela pessoa teria que suprimir o seu comportamento para evitar essas punições. Assim que o treinador desaparecia de cena o comportamento voltava e aumentado, dada a frustração e stress sentido nas situações anteriores em que não pode exprimir o seu comportamento natural.
Ao treinador que intimidou de tal forma o cão até que ele suprimiu o seu comportamento, e fácil atribuir a continuação do comportamento do cão na sua ausência, à incapacidade dos donos. “Ele comigo já não é agressivo por isso o problema está em vocês”.

Apesar da cliente considerar que o treinador fez um bom trabalho e que o objectivo tinha sido alcançado – algo que tinha sido verdade só em parte, visto que a dona do cão continuava com o mesmo problema, parece que a maioria das pessoas se esquecem de questionar qual o custo de fechar os olhos à forma como obtemos os resultados.

Será que existem consequências ao uso de tais formas de lidar com o comportamento exibido? Para além de reagir com agressividade a outros cães, o cão dessa cliente tinha agora receio das reacções dos seres humanos que o rodeavam. A raíz do problema (o medo que o cão tinha de cães) piorou e agora tinha ainda mais receio da proximidade de outros cães, que passaram a significar agora uma oportunidade dele receber punições. O cão também passou a reagir com agressividade à aproximação de homens estranhos no parque.
Deve ser muito difícil para um cão viver num ambiente de medo, em que ele nunca parece perceber quais comportamentos desencadeiam as reacções aversivas no ambiente e nas pessoas que o rodeiam.
Devemos aos nossos cães preocuparmo-nos tanto com a forma como atingimos objectivos tanto quanto o devemos a nós próprios.


por It's All About Dogs escola positiva de treino e comportamento canino a Domingo, 8 de Janeiro de 2012 às 15:47

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